terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"WHERE IS THE LOVE?"



        Hoje aqui na França, como em muitas outras partes do mundo é o dia de São Valentino, o padroeiro dos apaixonados. Só se fala nisso. Como nosso Dia dos Namorados, no Brasil. Corações vermelhos, rosas, chocolate. Um deleite para quem está “em cima”. O dia que precisa passar e rapidamente, para quem está “em baixa”. Como no mercado de ações, só existem as duas posições, não há alternativas.  Para quem tem alguém de quem receber um mimo especial, minhas congratulações. Mas meu interesse maior é tratar de quem não irá receber mensagens carinhosas, ou presentinhos. E de quem nem sequer tem a quem enviá-los. Embora simbólico, não deixa de ser um dia de constatação. E desagradável: “Mais um ano, e nada!”. E onde está o amor? Por onde andará aquele amor que sonhamos, há tempos, aquele que nos fará completos?
       Eis a questão. A resposta é que pode estar por toda parte, logo ali, em breve, onde menos esperamos. Ou como. Ou de quem. E então o mundo consumista exaspera ainda mais nossas carências e expectativas frustradas. Quando queremos algo que possa ser comprado, tratamos logo de nos empenhar no sentido de obter o fruto do desejo. Seja roupa, viagem, carro, imóvel, nossos interesses são direcionados e bem ou mal, vamos conseguir. Isso é certo.

      Mas e o amor?

     Investimos nele. Conhecemos pessoas, sonhamos, fazemos planos e mesmo assim, raramente acontece. Estamos acostumados demais a planejar, organizar, racionalizar coisas, bens, realizações profissionais, tudo que podemos controlar, a tal ponto de nos esquecermos que ele, o amor, é fruto do acaso, de um truque do destino, quem não pode ser encomendado sob medida, no tamanho que me convém. Às vezes, permanece. Às vezes, traiçoeiro, parte da mesma forma misteriosa como surgiu. Mas temos pressa. O tempo urge. Queremos conhece-lo, tocá-lo. A frustração de sua inexistência na vida presente traz uma sensação de desalento, um desmerecimento profundo, entramos na espiral do insucesso afetivo. Afinal, todos merecemos amar e ser amado, certo?
    Lamento não ter aqui a fórmula que possa resolver o problema. Até porque, não acredito em  “segredos”. Acredito em escolhas. Se o amor acontece por si mesmo, a escolha, ao contrário, não é um mero acaso. Podemos até ter perdido oportunidades de viver um amor ao longo do caminho, porque não soubemos reconhece-lo disfarçado de uma pessoa a nosso ver, parecia inadequada, seja por todos os padrões que fixamos em nossos inconscientes, nossos arquétipos, de que a pessoa amada deva ser assim ou “assado”, seja por simplesmente não conseguir retribuir o sentimento, ou mesmo, senti-lo. Nunca saberemos o quanto deixamos passar, mas vale refletir sobre a necessidade de estar-se presente em sua própria vida, para não repetir o erro. Como presente quero dizer hoje, agora, neste momento, nem antes, nem depois. Estar em posição de alerta, vale para tudo na vida. Vivemos melhor se sabemos viver o presente, pois o ego, que nos maltrata e tanto, é o melhor amigo do passado e o maior admirador do futuro. Ou seja, tudo que você não tem, que não pode ver nem tocar, tudo que não nos pertence mais, ou ainda, é que é importante. O ego é a fonte da nossa angústia. Mas a questão é que ele, o danado do ego tem um “Calcanhar de Aquiles”: O presente! O ego se afasta sempre que nos posicionamos em conexão completa e plena com nossa vida, como ela é AGORA!
    A reflexão do momento é, pois, de esquecer as trapaças do nosso poderoso e dominador ego, que insiste em nos lembrar de quantos amores já perdemos ou quantos poderão vir, do jeito que imaginamos.  Hora de parar de fazer tanto balanço da vida, senão arriscamos cair de vez! Lembrar, pois, que o amor que queremos não é um objeto de consumo e portanto, não podemos consentir em trata-lo como uma commodity, como se fora um ativo na bolsa, no mercado.  O amor é sim, o nosso grande investimento, a grande festa da alma, em nome de quem, mudamos os rumos da vida, por quem nos sacrificamos e ao lado de quem queremos estar. 
   Devemos estar prontos para acolhê-lo, no presente, sem ânsia, numa espera consentida e enriquecedora. Nada do tipo "baste-se a si mesmo" ou "seja feliz sozinha" ou algo do gênero. Na hora do amor, queremos mesmo o outro, é ele que nos completa e que nos basta. Olhar para o futuro e sonhar com ele é um direito que nos assiste e uma obrigação até, para quem o busca. 
   Então olhos e todos os sentidos bem abertos e em alerta e quando sentir que seu mundo "balançou" , escolha ser feliz, os outros não importam. Pois a vida é agora e o tempo, como disse Gibran “não se demora no antes.”