sábado, 17 de dezembro de 2011

O Natal e suas mazelas...


Ai meu Deus, chegou de novo! Natal, agora é ‘prá’ valer, todo mundo tem que se alegrar. Pois é, uma festa controversa, que traz alegria e melancolia, o que faz parte da sua essência e a gente acaba tendo que seguir o “fluxo”. Uns muito, outros menos, uns compram mais, outros menos e vitrine é para olhar. E então, as “festas obrigações”: confraternizações, amigos ocultos, comida, muita comida. Por mais comercial que seja tudo isto, há nele um sentido sobre o qual vou refletir. Para mim, este é o “Natal do Exílio”, pois estarei longe de tudo e de todos, nesta temporada em Paris, mas me conforta saber que não estou só nessa - muitos, como eu, estão longe dos seus. Porém, como sempre temos sempre a escolha de encarar de outro jeito a parte difícil, a distância de casa, dos filhos, da família, dos amigos, vou vivê-lo à minha maneira, “de fora”, observando, ao invés de participar (que não deixa de ser uma forma passiva de participação)! Para descobrir o tal “sentido”, saio às ruas de Paris, onde, no mínimo, irei captar algo para transmitir. Faz um frio úmido de 5°C, pego minha pequena câmera, debaixo de um solzinho que dá às ruas uma luminosidade intensa (Paris tem um tom bege claro que reflete qualquer luz). A ideia e evitar os passeios óbvios, tipo Champs Elysées os Grands Magazins (grandes lojas de departamentos) e outros lugares abarrotados de turistas, onde o ambiente é artificial e essencialmente de compras, não tem a cara da cidade, pois não traduz o clima da gente comum. Vejo então como os Parisienses vão viver este Natal de crise, da Crise do Euro, do risco da perda do (triplo) “AAA” das Agências de Notações, tipo Standard & Poor’s de Londres, que assusta a França tanto quanto a inflação tirou nosso sono há alguns anos. Todos de preto – é um must em Paris, no inverno. Como são fechados e circunspectos, é mais na animação das crianças nas ruas decoradas, que percebo o “espírito natalino”. Produtos, em abundância. Só deleite e quanto deleite! Se prá eles, Natal for isto, então vou engordar cinco quilos olhando tudo! Mas, as lojas estão preocupadas, as vendedoras quase à porta tentando atrair a minoria que se arrisca comprar, num momento em que não se sabe o que será da economia nacional, em 2012, anos de eleição presidencial (Sarkozy vai tentar se reeleger, num clima de agonia da moeda que tanto lutou para salvar, o euro). De volta à estação - a mesa do Natal dos Franceses é assim: “magra” (Aliás, eles são!): come-se “carne magra”, sem gorduras, por isso optam pelo tradicional Peru mesmo (uma festa Cristã, com toda sua simbologia). A tradição manda que cubram a mesa da refeição com três toalhas brancas sobrepostas, decoradas com três velas e três tipos de pães (dentre eles, o “pain d’épices”, pão temperado com especiarias). A simbologia do “3” é ligada à da Santíssima Trindade (A França hoje é um país laico, mas foi construído em torno do Catolicismo). Ah, deve-se colocar um prato e talher a mais do que o número de participantes da Ceia (homenagem aos mortos da família e aos que não têm o que comer) e incluir lentilhas no cardápio. Para sobremesa, treze (sim, 13!) tipos diferentes de doces, para quem segue à risca, a tradição. A torta mais importante é a “Bûche” (rocambole de chocolate, que se assemelha a uma “tora de madeira”, que dá nome à torta). Os vinhos também são três: um velho, um claro e um “cuit”, vinho artesanal, contendo o sumo das uvas e especiarias (similar ao do “Porto”). E tem os “Marchés de Noël”, que são atração à parte, todo bairro tem o seu, armados nas ruas ou praças, onde se vende de tudo e mais interessante na parte da comida, como decoram os pequenos stands. É o comércio dos pequenos, que não podem concorrer com os grandes, estabelecidos estrategicamente. Até na “Champs” tem, lindo por sinal – e caro! Prefiro os mais simples, sentir o clima festivo, os comerciantes gritando, para atrair os fregueses, as barracas de nozes e amêndoas caramelizadas na hora, algodão doce (o vero), uma mistura de aromas deliciosa, em contrate com a chuva fina e intermitente, que baixa em meio grau, a temperatura. Em cada quarteirão, vendas improvisadas dos “Sapins”, os pinheiros colhidos, as árvores de Natal que usam aqui. As artificiais, normalmente montadas nas lojas, são invariavelmente brancas e baixas. Nada muito complicado. As “Creches”, ou Presépios decoram a entrada das igrejas católicas. A estação é das “huitres” (ostras), da Região Poitou-Charentes. As “Salées” (salgadas) ou mais doces, reguladas por números (2, grandes, 3, menores, etc), que definem o tamanho (e os preços!), simplesmente degustadas com “citron” (limão siciliano) e um bom “coup de champagne”...! Silêncio. Falta o “Foie-Gras” (fígado de ganso engordado – nem vou falar como! Mas que é bom isso é), que tem seu lugar especial. Enfim, uma bela mesa, costumes, tradições. É assim em todo lugar, cada um à sua maneira. O que importa, é que apesar das mazelas que vêm junto com a estação, a gente não esqueça seu significado, o da troca, simbolizada nos presentes, o do amor, transmitido nos gestos, o da união, nos encontros, muitos, que são realizados. E assim, o “da Crise”, deles franceses e o do “Exílio”, meu, se encontram no meio de uma praça, de uma cidade, num instante da vida de alguém e descubro que no Natal, celebramos a fuga da nossa aldeia particular, que nos encarcera o ano inteiro e nos voltamos para fora, para fazer parte de algo maior! As famílias, as empresas, os grupos de amigos – lá entregamos a “parte” e viramos o “todo”, o todo mundo, o nós, os “nós” da garganta e do peito, desatados, entregues, em confiança. Neste instante, olho a estrela que brilha no céu e sei que mesmo longe, estou perto do todo ao qual pertenço e por isso, o percebo em toda a sua beleza, interior e exterior. Saio do meu casulo e o celebro com os anônimos que passam por mim, apressados, procurando sua “turma”.  
Um bom Natal para vocês também!

23 comentários:

  1. Lindo texto! nossa escritora piauense, inteligente e sensivel! Martha Medeiros e Lia Luft que se cuidem! Feliz natal!! Um pouquinho de inveja do seu natal em Paris, mesmo com toda nostalgia ...

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  2. Concordo com a Lucinha Deísa, que texto bem elaborado e lindo! Me senti em Paris... tb estou aqui no frio na Noruega e falar em povo circunspecto, é falar no povo nórdico! Mas...meu marido, já abrasileirou bastante...rsrs Um grande beijo, um Natal maravilhoso e um 2012 ainda melhor!

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  3. Nossa! Que presente de Natal ganhei hoje descobrindo seu Blog maravilhoso! Amiga, como sua amada mãe, você mora no meu coração. Amei o que você escreveu , suas palavras me levaram a Paris, cidade que encantou por demais, como se sempre houvesse vivido lá. Saber dessas tradições dai me inspiraram e como decoradora vou providênciar todos os detalhes e fazer lá na nossa praia de Luís Correia, uma ceia de entrada de ano usando toda essa rica cultura e esses detalhes da toalha, dos pães, dos vinhos. Lindo!!!! Menina que saudade!!! Agora vou lhe seguir e acompanhar daqui você e poder ler essas crônicas deliciosa que escreve. Pelo visto herdou, bem herdado o dom da escrita do seu pai, da arte e o amor a cultura. Também gosto de escrever, mas coisas mesmo do meu jeito de viver. E fica feliz com uma visita sua no meu site e blog. Grande beijo!!! Haydée Ferreira - haydeeferreira.blogspot.com - www.haydeeferreira.com.br - Facebook e Twitter

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  4. Amei seu texto......Paris é uma cidade que me traz ótimas lembrancas, é como se já tivesse vivido aí....engracado né? Amei saber das tradicões, vou tentar fazer e c certeza lembrarei mt de vc! Como nada é por acaso.....hj vc me fez mt feliz......bjo grande e um Natal especial!

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  5. Acho que Pondé, se inspira em vc!Bjs, continue nos enviando sua percepção dessa linda Paris, dê lembranças Sarkozy,Carla e ao herdeiro...rs
    adoro ser transeunte de Paris através de suas palavras, quero lhe ver em Nice!!!Feliz Natal, data esta que lhe conheci e vivi felizmente noites adoráveis de Natal com sua família!!! Fernanda

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  6. Deisa nunca tive duvidas que voce simplesmente nao escreve vc faz uma viagem com as palavras amo vc pois e a pessoa mais inteligente que conheco . escreve com alma e muito amor coisas que poucos sabem. sonho em ler aquele livro tao falado por nos .Nao desista dele
    te amooooooo....
    bjs daquela que todas as celulas vibram a te encontrar amor de irmaaaa...

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  7. Deísa, Deísa, Deisa, você é um PRESENTE! Onde quer que esteja, um presente para nós... sua família, seus amigos, suas amigas. E agora... também para todo mundo que acessar o seu blog. FELIZ NATAL querida, aqui, ali ou acolá, onde estiver, que as bençãos do amor divino, do Jesus menino, sempre encontrem você! Kledja Marabuco

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  8. Roselisa,

    Os retalhos do cotidiano parecem que mudaram somente de lugar, a essencia é a mesma, e o seu texto é um vagalume.... que pisca pisca em Paris e no Poty....belo texto, nem preciso ir mais a Paris!


    moisés chaves

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  9. Com o coração menos apertado de saudades porque meu filho já está em casa depois de longos 7 meses e vai passar o Natal em casa, ao mesmo tempo sentindo saudades dos amigos que estão longe com a mesma nostalgia que você está nos passando, só que em lugares diferentes como Roma, Miami, Bruges, Austrália, Portugal, Texas e por aí vamos mundão afora e dentro desse País tão lindo e abençoado como nosso Brasilzão...Falei para você que não conheço Paris, descobri nesse minuto que acabei de conhecer uma parte fantástica de lugar tão amado, da beleza que você conseguiu passar com texto tão bonito de uma data tão cheia de beleza, significado e para mim, pessoalmente, melancolia. Que Deus te proteja sempre e que as estrelas continuem brilhando muito para você...Fica bem!!!Beijo no coração

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  10. Deísa e sua alegria contagiante agora com um blog! Que maravilha poder ler , quem sabe bem escrever...Textos maravilhosos , ja li todos . Com certeza ,Eliane Brum ,que tb adoro, está prestes a perder o posto pra esta amiga. Feliz natal, mesmo londe de sua família, aproveite o" exílio" ! Bjo pra vc . Christiane Mendes

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  11. Amiga amada de todo o sempre.....amei o texto! Somos unicos....mas somos sim tambem " um todo"....que bom que voce faz parte do "meu todo"!!!! Bisous!!! Pat Mello

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  12. Ola Que linda!!!!!
    Obrigada Querida
    Seu amigo Pedro Braz de facebook!!!
    Feliznatal e Beijinhos

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  13. Olá menina parisiense...esta andarilha aqui adora ler o que você nos diz ou o que consigo entender...não sei ! só sei que gosto..o Natal realmente é um encontro com o mundo, registre este encontro neste tempo que a vida lhe deu. Escreva as suas impressões, assim viajarei nas palavras por uma nova Paris, a dos seus olhos e dos seus sentimentos! beijinhos no coração e siga seus caminhos...Feliz Natal ou Feliz Encontro...
    Sua admiradora, sonya brandão...

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  14. Seu texto eh como vinho, DE...a gente tem de apreciar com calma... que maravilha!

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  15. Delicioso! Grata por poder compartilhar esses momentos com vc. Me emocionei...Sinta-se abraçada, ou melhor, arroxada, como se diz por aqui e querida sempre. Boas festas prima. Saúde!

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  16. O texto está delicioso Dê, melhor ir dividindo em vários porque a gente quer mais detalhes descritos de uma forma especial como vc está fazendo. Fico feliz com isso tudo. Bjs e curta seu "Natal Diferente" a sua maneira, sob uma ótica que para nós é novel. Je t'aime :)

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  17. Parabéns! seu texto traduziu bem o Natal em Paris. 1 grande abraço prima.

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  18. Que passeio delicioso por Paris, pelo Natal, pelas suas impressões!!!!!!!! Muito bom Dê! Aliás, seus textos são um deleite!!!!!!!!
    Bjs...

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  19. Parabéns pelo post tia! deve ser muito lindo aí no natal! bjs

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  20. Muito bom Deisa, vc enxerga bem quando a vida aparece.Sempre essa destreza.Suas letras estão como pinceladas. A visão de Paris, vivendo, te traz o mundo mais a mão. E como afinar o instrumento. Essa do piauiense tratar -se sempre,somente como vitima de preconceito sulista, eu já havia notado, enxergado quanto equivocados estão. Os que estão no poder, preferem assim o seu curralzinho. Nos,não. PM

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  21. Deísa... é escrever e perceber que do outro lado da tela existe o "nós"! Fico imaginando como será o título do próximo livro!?
    Deus trilhou o seu caminho e vc sabe aproveitar cada momento vivido nele. Feliz em te conhecer. Beijo no coração, Jan. "nosso bom velhinho está bem, sente saudades."

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  22. O Post mostrou que o Natal é sempre um "best seller", em todos os seus aspectos. Longe de casa, perto, ele nos instiga a pensar no que significa, como é interpretado e sou grata pelo retorno. Quem escreve, quer ser lido...até o próximo.

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  23. Miriam Area Leao Barreto28 de dezembro de 2011 às 18:45

    Texto lindo!Deisa escritora além,de inteligente e de uma sensibilidade.Arrasou!Viajei com suas palavras a Paris.

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