sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O LIXO NA TV - “NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM” E NÃO FUI EU QUEM DISSE ISTO!

       Há uma semana venho ‘ruminando’ umas ideias sobre as quais escrevo agora. A partir de um vídeo que me enviaram contendo uma entrevista do artista plástico Antônio Veronese*, radicado na França, onde ele fala sobre a falta de conteúdo na televisão brasileira. Concordei com quase tudo, menos com a declaração de que o “Dr. Roberto Marinho virou no túmulo”, a propósito do Jornal “O Globo” publicar no Caderno Cultura, o fato de as duas meninas do BBB terem (será?) se masturbado ao vivo. Começo pela discordância para chegar à corroboração com o desabafo do artista. Vamos admitir: Dr. Roberto deixou seu legado. Criou a maior rede nacional de televisão, mas, junto com ela, a verdadeira vocação de seu projeto ou diria, a não vocação, a de fazer da TV uma potente arma de educação para seu público e praticamente definindo o modelo vigente de entretenimento televisivo adotado pelas outras redes. 
      A Rede Globo tem uma força descomunal e domina e define os comportamentos da maioria da população. Numa parte do tempo, ela mostra seus programas - Na outra, ela os comenta e induz o público à audiência... dos programas! Direta e indiretamente, não há como escapar deles. O crescimento da rede coincide com o do período militar. Tudo dentro dos conformes. Big Brother Brasil é, pois, só mais um dreno por onde milhões de reais “escorrem” todos os dias para os cofres da empresa. BBB vende e pronto. Muita gente compra, assiste, comenta, participa, valoriza, sofre, grava os pensamentos e reflexões para si, todos os participantes têm, pois,  muito mais do que os “quinze minutos de fama” (Andy Warhol calculou mal a que nível as coisas poderiam chegar!). Mas é a realidade. Seria maldade colocar o BBB em sinal fechado. A população menos favorecida ficaria privada da diversão e o programa não venderia tanto. É entretenimento para quem gosta (os índices o provam). Um grande lixo, mas tem quem goste.
        Quanto à concordância com o Veronese, “TV é concessão de Estado”! Isso é sempre bom lembrar, pois muitos acham que qualquer ingerência institucional sobre o conteúdo a ser mostrado pelos programas nas Tevês de sinal aberto, poderia sugerir algum tipo de censura, o que é proibido pela Constituição Federal e legado da nova democracia brasileira. Mas outros países mostram que sem Governança, o autogoverno, com metas educacionais, não se fará uma TV de qualidade, onde se tenha de tudo um pouco, além apenas de distrair o público. No Brasil é o contrário – possuidores de um ensino público de péssima qualidade - ainda concedemos canais a quem não se propõe a educar. Ah, tem o “Globo Ciência”, o “Globo Ecologia”, “O Globo Rural”, mas em que horário? Até onde lembro, domingo, a partir das seis da manhã (quando todos os trabalhadores -ou a maioria - dormem no seu único dia de descanso). Ou seja, que tem programa educativo, tem, mas não em horário nobre. O anunciante quer audiência e essa é definida mais pelos hábitos da população (hora do café, almoço, jantar). Praticamente tudo que for colocado na programação, nos momentos de reunião das famílias em torno da mesa e nos horários de lazer, será definitivamente absorvido, consumido pela audiência. A qualidade do conteúdo, não é definida pelo público, no que também concordo com a entrevista que ora comento. É o contrário – as concessionárias, têm pois, a Responsabilidade Social (sim, com maiúsculas) de fazer de sua concessão estatal, algo que contribua para o entretenimento e educação. Informar não é apenas reproduzir os fatos ocorridos. Informar é criar também, senso crítico, desenvolver a capacidade de se posicionar, de ter acesso ao c-o-n-h-e-c-i-m-e-n-t-o!
     Hoje sou anti-novela, nunca assisti BBB, detesto o Bial, odeio o Faustão, não suporto o Gugu, desligo na Ana Maria Braga. Isso foi uma escolha minha, pessoal, nada contra quem gosta. Por ter acesso a canais estrangeiros, em inglês e francês, consegui comparar a mesma notícia, veiculada por três países diferentes. As que o Brasil mostrava, eram “pasteurizações” daquela mostrada nos outros países, muito mais precisas. Tudo é muito manipulado, desde números a fatos. Tudo é mostrado em tom de “Repórter Zero”, com solenidade do estilo "estamos em guerra", para que o país fique sempre muito, muito preocupado. Com tudo. As chamadas prévias deixam o coração do brasileiro sobressaltado e, portanto, fica tudo comprovado com a notícia de abertura: “Homem é morto a sangue frio por ladrões em posto de gasolina"! Uau! Será que merecemos mesmo tanta manipulação? Trabalhar o dia inteiro feito louco, enfrentar trânsito, stress, cansaço, para terminarmos o nosso dia sentindo medo? Eu não sei se alguém já experimentou se “alienar” um pouco, mas no dia em que decidi não mais assistir a essa baboseira, minha vida deu um salto de qualidade enorme. Qualidade de vida. Vi que o mundo não estava acabando, que nem toda doença é incurável, que notícia se fabrica, se cria se inventa qualquer pessoa do ‘metier’ sabe disso, e olha que nem é o meu. Eu, porém, tinha opção, uma TV a cabo. Mas e os outros, que consumem tudo como pizza "goela abaixo"?
      Carlos Nascimento, o repórter, diz sobre o caso "Luíza", que "já fomos mais inteligentes»... concordo, em termos, apesar da contradição - Mas e será mesmo que já fomos? E se o fomos um dia, quando foi isso? E foi a TV Globo quem disse isso? Voilà a contradição. Ora, a TV brasileira talvez seja das mais "emburrecedoras" do mundo. Deve perder para a americana, que apesar de ter boas séries, tem muito “besteirol” (A NHK do Japão deve ter uns 10 programas de Karaokê por dia - coisa grande por lá!). A net, porém,  é diferente. Nem é concessão e nela não se filtra nada e por sua vez, pega tudo e infla, na velocidade do som ou pior... se for bom, vai, se não for, vai assim mesmo! E lá se foi "Luíza", sem que soubéssemos por quê. Mas ficamos assim, vivendo da "última" que "rolou" na novela, no BBB, na Internet. Pedra sobre pedra, vamos construindo nossa realidade, que é só essa aí, mesmo. Nossa ausência de valores outros do que a propaganda do Mastercard, o fato de acharmos que tudo deve ter um preço a ser pago, com dinheiro mesmo e até quando não tem, a gente registra - Um céu azul, "não tem preço"! É nisso que dá, viver só "do pão e para o pão". Afinal, não passamos o dia atrás dele? Quer mais mediocridade do que isso?  O mundo vai, pois, virar, apenas uma grande "padaria"! 
   A seu momento, a TV sem governança, sem autorreflexão sobre a importância de sua missão, sem diretrizes institucionais, sem compromisso com seu papel, vai continuar a vender "o pão de cada dia" consumido pelo brasileiro, empobrecendo a mente de um povo que tem potencial para acompanhar a China e a Índia, na arrancada para o futuro das maiores nações do planeta com a vantagem de sermos melhores, mais unidos, mais justos, apesar de tudo, do que as outras duas. Mas acho que não basta, para isso, que apenas fiquemos ricos. Temos que ser mais apenas do que o “pão” pois não queremos nem só ele, nem o “circo” do entretenimento. Temos que consumir cultura e varrer o lixo da TV é também Responsabilidade Social e Ambiental, de quem Concede e de quem é Concedido. Assim mesmo, com maiúsculas.

Reciclagem já!


* Link da entrevista de Antônio Veronese: http://youtu.be/lzefF9i_Ucw
Obs. Quanto à grafia de algumas palavras, registro que ainda não domino as mudanças do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa!

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